Todos os dias acordamos cheios de planos: trabalho, compromissos, rotina, a vida em si. Organizamos tarefas, calculamos passos, tentamos antecipar cada detalhe. E então o mundo vem e muda tudo. Chove, o ônibus atrasa, uma notícia inesperada chega, o corpo adoece e o imprevisto entra sem pedir licença. Então a pergunta aparece, insistente: afinal, quem tem o controle de tudo?
A resposta é desconfortável: ninguém. A natureza, com sua força imparável, dita as regras sem pedir consentimento. O tempo passa, o corpo envelhece, as estações se alternam, o sol se põe e a gravidade segue seu caminho. Nenhuma vontade humana dobra essas leis. Até a mente, nosso suposto centro de comando, é uma terra indomável: decisões são tomadas antes que a consciência perceba, memórias e instintos influenciam cada escolha, e o “eu” racional só corre atrás, tentando explicar o que já aconteceu.
Depois entra o acaso, esse artista que pinta fora do traço. Um encontro inesperado muda o rumo de uma vida inteira. Um atraso de segundos evita um desastre. Uma palavra dita sem pensar abre caminhos ou fecha portas que jamais voltarão. O acaso é o aviso de que, por mais planejamento que haja, o improviso continua. E quanto mais tentamos controlá-lo, mais flagramos nossa própria impotência diante do imprevisível.
E há ainda o grande sistema das coisas, a teia invisível que conecta tudo: pessoas, ecossistemas, cidades, dados, átomos, pensamentos. Não existe um maestro regendo essa sinfonia. O que existe é um equilíbrio dinâmico, uma rede de dependências que se ajusta sem dono, sem comando. O controle, se existe, não está em mãos humanas, mas na ordem que emerge do caos, na dança silenciosa de forças que se harmonizam sem perceber.
Resta, então, o pequeno território do “eu”: o controle da resposta. Não controlamos o que acontece, mas podemos escolher como reagir. É aí que surge o poder real, a serenidade diante do incontrolável, a capacidade de tomar decisões conscientes mesmo quando o mundo insiste em ser imprevisível. É nesse espaço que nascem escolhas significativas, atitudes que moldam trajetórias, resiliência e crescimento.
Viver é aceitar que o controle absoluto é uma ilusão, mas também perceber que não estamos condenados ao caos. Existe um lugar de liberdade, estreito e precioso, onde a consciência encontra sua força. Ela não está no domínio das circunstâncias, mas na maneira de lutar com elas. Tropeçar, levantar, adaptar o passo, reinventar o ritmo. Quem entende isso não perde o controle. Apenas deixa de fingir que o tinha, e passa a aproveitar o movimento imprevisível, vasto e surpreendente do mundo.
E talvez aí esteja a maior lição: a vida não é uma marionete que podemos conduzir, nem uma estrada reta a ser percorrida. É uma busca constante entre o conhecido e o inesperado, entre a ação e a aceitação, entre o desejo de controlar e a sabedoria de fluir. O verdadeiro domínio não é sobre o mundo, mas sobre nós mesmos. Ao compreender isso, percebemos que o controle não é posse, e sim convivência. Uma convivência que exige coragem, paciência e, acima de tudo, atenção para cada passo.